Contos literários europeus têm origem Hindu

O conto literário europeu (e por extensão, o americano) é de origem oriental, ou mais precisamente, hindu. Há concordância entre os mais importantes estudiosos e pesquisadores que pelo menos duas colecções de contos orientais estão na origem (ou serviram de paradigma) das narrativas que fizeram o encanto dos ocidentais europeus durante a Idade Média e a Renascença. Essas duas  colecções-fontes são: o Pantcha Tantra (Os Cincos Livros) e o Hitopadexa (A Instrução Útil), surgidas séculos antes de Cristo.

Ambas pertencem ao grande caudal da literatura hindu, escrita em sânscrito (idioma sagrado da Índia) e existente bem antes do aparecimento de Buda (nascido no séc. V. aC.). Literatura da qual, os sacerdotes da nova religião, escolheram alguns episódios exemplares (contos, apólogos, lendas ...) para difundiram na Índia e na China os preceitos budistas. Com o passar dos séculos, e já despidos do seu conteúdo ou intencionalidade  religosos, tais contos se espalharam pelo mundo, em versões chinesas, persas, árabes, gregas, latinas, etc.

O mundo do Pantschatantra e do Hitopadexa é o do maravilhoso ilimitado  que desfaz as fronteiras entre real e imaginado, e onde homens e animais convivem em perfeita  igualdade. Os assuntos, que vão do quotidiano mais simples ao fantástico mais inverossímel, alimentaram a imaginação da humanidade durante séculos. A estrutura formal dessas colectâneas é labiríntica: os episódios  penetram uns nos outros e se embaralham. Como se diz em Mar de  Histórias: “Os contos estão entrelaçados: a primeira história não acabou, e uma personagens começa a narrar outra, na qual por sua vez, outras se acham encravadas. Acotovelam-se nesse estranho labirinto, as figuras mais singulares: a mulher que deu à luz uma cobra; o passáro de duas cabeças que perece por causa de  uma briga entre elas, o chacal azul que renegou seus irmãos de raça, as serpentes indiscretas que, numa desavença, imprudentemente revelam cada uma o segredo da outra, em presença de uma  mulher ...” (A. Buarque & P. Rónai). A esses episódios, acrescentamos o célebre conto de critica aos sonhos altos demais: o “Bramane e a escudela de farinha” que,  em cada nação, ganhou uma nova versão: “O Monge e o jarro de  manteiga “ (Calila e Dimna); “Perrette, a leiteira e o jarro de leite” (La Fontaine); “Mofina Mendes e o jarro de azeite” (Gil Vicente), “Dona Truhana” (Conde Lucanor), “Elza, a sábia” (Irmãos Grimm) etc. Conto exemplar que até hoje vem sendo reinventado sob as mais diferentes formas.

Fonte: Universidade Nova de Lisboa

 


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