Introdução ao Tantra - as 3 escolas

É comum ao espiritualista ocidental associar o Tantra a uma prática específica que lida com os aspectos sexuais da existência. Um pouco mais raro, mas ainda corrente, é a visão de que o tantra se divide em duas partes: a escola da mão direita e a escola da mão esquerda.

No entanto, o Tantra é algo muito diferente do que é conhecido dos ocidentais.

O tantra é dividido em três escolas que se apóiam e completam, num sistema direcionado para o gradual despertar consciencial do praticante.

As escolas do Tantra são: Kaula, Mishra e Samaya.


Kaula Tantra

O Kaula tantra é a forma mais grosseira dos ensinamentos tântricos. Mas isso não significa que seus ensinamentos sejam ruins ou inferiores, mas sim que seus ensinamentos são os mais "visíveis" ou "palpáveis". Suas práticas são totalmente exteriores e tem como base práticas concretas e rituais.
Essa escola está dividida em dois ramos, o da esquerda e o da direita.
Os praticantes da via esquerda (em sua maioria) fazem uso de carne de vaca, peixe, drogas e o contato sexual como parte de sua disciolina.
No entanto, esse comportamento resulta da má interpretação dos textos e do falseamento da verdadeira natureza de um objeto em um grau profundo. Os praticantes da direita usam desses métodos de forma simbólica em seus rituais.

Há certa disputa entre as duas divisões, onde uma se acha superior à outra.
Por ser uma prática mais acessível ao conhecimento humano, há numerosos textos sobre o Kaula Tantra, mas no entanto, há poucos mestres competentes para ensiná-los.
As práticas do Kaula se focam no Chakra básico e no treino para o controle das necessidades básicas do corpo e dos desejos mais densos. Muitas dessas práticas podem ser relacionadas aos rituais de magia, da maneira como os ocidentais a conhecem, com rituais, oferendas, mantras e etc.,
Ainda assim, os estudantes do Kaula desconhecem, na sua maioria, a existência das outras escolas do Tantra.

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Mishra Tantra

A escola Mishra executa tanto rituais internos como os externos. Mishra tem como tradução “misturada”, em alusão aos seus métodos internos e externos de prática espiritual.
O foco da prática está situado no chakra cardíaco, na devoção ao princípio feminino ou poder criativo da consciência, também chamada de Mãe Divina.
Os pujas ou rituais de adoração são feitos de maneira mental e por isso são conhecidos como manas puja e são feitos com um alto grau de devoção e desapego, deixando a prática sem o apelo emocional, tão comum quando não há a equanimidade conquistada pelo desapego.
Nessa escola, a kundalini é estimulada até o chakra cardíaco, onde é estabelecida uma relação intima com o divino.
Essa relação solidifica as bases do praticante tornando a mente um receptáculo de virtudes.

Samaya Tantra

Samaya Tantra é o caminho mais sutil dos três, é a prática mais profunda.
Nela o sentimento de companhia do divino atingido com as práticas do Mishra Tantra são guiadas, através do desapego aos prazeres exteriores, aos mais altos níveis de percepção consciencial.
Tudo isso é conquistado através de práticas inteiramente yogues, não havendo uma pratica exterior sequer. O propósito é a conquista de Moksha ou liberação final.
Samaya significa literalmente “Eu estou com você” e remete à presença inerente da Shakti no Ser, através de Shaktipata ou despertar ou transferência consciencial proporcionada por um guru. Essa transferência ocorre independente da associação física entre guru e discípulo e pode ocorrer inclusive diretamente do plano espiritual.

Nesse sentido o “Eu estou com você” remete à presença e ligação invisível do praticante com todos os mestres iluminados, trabalhando juntos para o rompimento dos últimos grilhões que prendem o praticante à Maya (ilusão).
As práticas do Samaya Tantra se focam principalmente no chakra coronário (acima do topo da cabeça) e suas meditações são feitas no chakra frontal (entre as sobrancelhas). Esses dois centros são os mais trabalhados pelo Samaya Tantra.
Através dessas práticas a kundalini é direcionada ao chakra coronário, iluminando todos os chakras inferiores em sua jornada.

A prática é baseada no Sri Vidya, a Mãe de todos os conhecimentos, o mais sutil dos vidyas (vias de conhecimento).
Podemos dizer que os ensinamentos são apreendidos em meditação, onde o fluxo contínuo da consciência é percebido com plenitude. As impressões da mente são limpas através do guru chakra, intimamente ligado ao processo de shaktipata.
Depois que o praticante está plenamente capacitado, as meditações no chakra frontal revelam o Brahma nadi, canal de energia sutil que está contido no sushumna nadi. Através do direcionamento consciente da kundalini, atinge-se o Bindu chakra, que é o ponto de onde a mente emerge e que tem a compleição de uma pérola.

Quando o praticante está preparado, a pérola explode através da graça de Shakti (poder criativo da Consciência) e então é atingido o estado de shaktipata. O praticante tem a oportunidade de vivenciar as várias camadas da consciência até, finalmente, emergir o estado de união com a Realidade Definitiva (Parama-Shiva).

fonte: yogashala

 


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