O Poder do Mauna


Muitos falam demais, e o tempo todo. Poucos se dão a oportunidade de falar pouco, ou somente o necessário. Mais muito menos, se dão a chance de se silenciar, e ao invés de falar, ouvir. Se ouvir.

Acabei de retornar de um retiro, aonde tive a benção de estar por uma semana na presença do Professor Hermógenes e receber seus ensinamentos. E foi durante este período que surgiu a oportunidade de me silenciar, de vivenciar o mauna, o silêncio. Podendo assim, receber os ensinamentos mais valiosos, especialmente, para uma pessoa tão cética como eu.

'Deus quer falar, faça silêncio.' Foi com esta frase do Hermógenes em mente, que se iniciou o período de mauna para todos do retiro.

O processo todo foi realmente muito interessante, ainda mais, porque eu já fizera mauna outras vezes, com outras pessoas, em outras circunstâncias. Mas dessa vez eu pude experenciar algo que nunca fora possível antes. Tenho certeza de que o ambiente da montanha favoreceu muito.

Eu sempre tive problema com a religião, com a fé. Nunca consegui conseber essa idéia de um Deus, sentado lá em cima das nuvens, condenando, ou ajudando as pessoas na Terra. Quando conheci o hinduísmo, com todas as suas divindades, tudo pareceu mais atrativo para mim, pois, essas divindades, representam um aspecto dentro de nós, uma parcela do divino. As coisas então, começaram a fazer mais sentido, porém, foi durante o mauna que compreendi essa idéia de Deus.

Passei uma grande parte do meu silêncio num templo meditando. E essa meditação foi necessária para me abrir a consciência e me trazer para o momento presente. Eu estava com a minha atenção no Aqui e Agora. Ao sair do templo, sentei em sua escadaria e fiquei por longas horas a contemplar a imensa e belíssima natureza do lugar.

E posso afirmar com muita alegria, que nunca estive tão presente no momento quanto dessa vez. Para mim só existia o Agora. Minha atenção estava ali, nas plantas, árvores, flores, pássaros, borboletas, na terra, em tudo; inclusive nas pessoas que tão silenciosas estavam.

Assim, permiti que meu ceticismo fosse deixado de lado, de que qualquer crença religiosa fosse deixada de lado e pude enxergar o que estava por trás de tudo isso.

Fechei os olhos e fiquei ali. Em comunhão com a natureza e todas as pessoas e pude sentir que todos nós somos uma única coisa só. Por de trás da profissão que lhe define, do nome que lhe deram, das roupas que você usa, da personalidade que você tem, do país que você mora, da língua que você fala, e do nome que você dá para seu Deus. Atrás desses namarupas (nomes e formas) somos a mesma coisa. Pulsamos na mesma energia e somos iguais. Eu, você, a árvore, a borboleta, a água da cachoeira, os animais, o Sol, a terra.... enfim, tudo. Somos Um.

Isso me emocionou de uma tal maneira que passei o resto do dia comigo, numa introspecção. Mas ainda assim, não havia solidão, pois mesmo sozinha e calada, eu estava com todos, a todo instante. Muito mais presente do que quando achava que estava junta e unida, através de palavras e ações. O silêncio nos diz mais.

É através dele que permitimos ouvir nossa intuição. É através dele, que aquietamos de tal maneira o turbilhão de nossos pensamentos, que se torna possível ouvir os poucos e mais importantes que vêem até nós. Assim, como também, deixamos de lado o nosso Ego, os julgamentos, os preconceitos, e sentimos as pessoas. E nos permitimos entendê-las e conhecê-las verdadeiramente.

O silêncio permite que nos conectamos, com o Divino, representado em cada pessoa, na natureza, na vida em si. E permite que vivenciamos a sincronicidade da vida, abre a porta de nossos corações e mentes bloqueadas pelos paradigmas e condicionamentos que trazemos conosco. E vivemos a pureza de algo mais sutil e forte que nos liga a todos.

E essa experiência é o yoga em sua forma mais pura. Pois na ausência de palavras você pode sentir o Amor que nos permeia e pode amar incondicionalmente. Pode Ser o que você verdadeiramente é. Pois no silêncio você não é nome, nacionalidade, profissão, e não é Ego. Você é uma parte do Divino, de Brahmam. Você é a Consciência Divina. A alma individual, purusha, pronta, para ouvir e sentir o Ser Universal, em tudo e em todos.

Isso é Yoga. União.

Om shanti Om prema!

Fonte: Por Ana Paula Malagueta Gondim, www.yoga.pro.br

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