Ioga e fibromialgia

As limitações dos tratamentos convencionais têm levado os pacientes com fibromialgia (FM) a optarem por muitas abordagens alternativas e complementares e, dentre estas, a ioga pode ser uma opção. Torna-se importante para o especialista da área conhecer os potenciais benefícios desta modalidade como recurso complementar no tratamento da FM.

DEFINIÇÃO DE IOGA E OS PRINCIPAIS EFEITOS DA SUA PRÁTICA

Ioga é um sistema filosófico-prático que conta com metodologias para a unificação dos diferentes elementos do psiquismo humano(1). Em todas as técnicas deste sistema o praticante busca eliminar sua agitação e ter um domínio harmônico de si mesmo. Para dominar o corpo, são praticadas as posturas (âsanas) nas quais se deve manter a estabilidade e o conforto(2). Para dominar a respiração, são praticados exercícios de controle respiratório (prânâyâmas), que induzem à tranqüilização respiratória até que se possa atingir pausas conscientes, confortáveis e prolongadas(2). Nestas condições, torna-se possível buscar de modo eficaz o controle da mente através de técnicas meditativas, que visam absorver a atenção do praticante num único foco(2).

As referências mencionadas neste artigo estão baseadas em abordagens tradicionais, que seguem a orientação dos livros antigos de ioga, com ênfase em técnicas que tranqüilizam os praticantes. É importante lembrar que há escolas contemporâneas, cujas práticas podem ser extenuantes e, portanto, com efeitos diferentes dos descritos a seguir. Dentre os vários efeitos fisiológicos destas técnicas, destacam-se:

-estado hipometabólico em vigília (caracterizado por reduções do consumo de O2 e da produção de CO2, por aumento das ondas alfa e da resistência da pele)(3).

-redução da pressão arterial(4).

-aumento da flexibilidade muscular(5,6), da resistência aeróbia(7) e melhora do controle do equilíbrio.(8)

-alterações nos níveis de hormônios e neurotransmissores.(9)

Vários destes parâmetros são compatíveis com a redução da atividade simpática e aumento da parassimpática(6). Há também benefícios gerais nos níveis de condicionamento físico(5-7). Ambas características podem ser de grande valia para os pacientes com FM.

 

A IOGA E O CONDICIONAMENTO FÍSICO NA FIBROMIALGIA

Pacientes com FM costumam apresentar baixos níveis de condicionamento físico, com predisposição ao sedentarismo(10). Iniciar um programa de condicionamento nestas condições pode ser sofrível e muitos desistem, alegando aumento das dores e da fadiga. Diante desta perspectiva, a ioga pode ser uma opção de atividade física suave e, portanto, mais aceitável. Acredita-se que o treinamento de ioga possa induzir à conversão de fibras rápidas em lentas(7), o que permite um melhor aproveitamento dos exercícios aeróbios indicados para os pacientes com FM.

O aumento da flexibilidade proporcionado pelas posturas de alongamento também é importante para pacientes que tendem a apresentar rigidez e encurtamentos musculares que, provavelmente, agravam o quadro de fadiga e dor(11). É possível que a prática de ioga possa se constituir num recurso auxiliar importante para controlar os sintomas dos pacientes e, então, iniciá-los num programa de condicionamento físico mais completo com maiores chances de adesão.

 

A IOGA E A DOR NA FIBROMIALGIA

A dor crônica difusa é a característica mais marcante da FM(12). É notória a importância de abordagens que auxiliem na analgesia e na administração da dor para estes pacientes, e a ioga pode contribuir neste sentido. A prática avançada de ioga pode levar à inibição da atividade cerebral em áreas relacionadas à dor, tais como as áreas corticais somatosensoriais, havendo relatos de praticantes que alegam não sentir dor durante a meditação(13). A longo prazo, modificações na atividade neurovegetativa(7) e na condição muscular podem alterar o quadro de dor crônica difusa, característico da FM.

A autoconsciência, desenvolvida através da ioga, pode ser também de grande valia no tratamento da dor. Reduções nos níveis de ansiedade e depressão podem influenciar os componentes emocionais da dor(14).

O potencial de analgesia das práticas de ioga em quadros de dores musculoesqueléticas crônicas tem sido evidenciado em vários estudos. Constatou-se analgesia através destas práticas em casos de dores lombares crônicas inespecíficas(15), osteoartrite e síndrome do túnel do carpo(16), dentre outros casos. Em um estudo feito em pacientes com FM constatou-se analgesia significativa através da ioga após três meses de prática, bem como imediatamente após cada sessão, o que demonstra que a ioga pode ser um recurso importante para reduzir a intensidade da dor nesta síndrome dolorosa crônica(17).

 

PRESCRIÇÃO DA IOGA NA FIBROMIALGIA

Para que um paciente com FM possa se beneficiar da ioga com minimização dos riscos, é prudente seguir estritamente a recomendação tradicional de adotar as posturas num padrão estável e confortável(2), sem os esforços excessivos em isometria exigidos em algumas das técnicas mais avançadas. Adaptações podem e devem ser feitas para que a prática seja realizada com o máximo de bem-estar.

Considerando-se a tendência de a respiração paradoxal e acelerada acentuar os sintomas da FM(18), é recomendável o aprendizado da respiração diafragmática com expirações lentas, conforme o proposto em abordagens tradicionais, o que leva a uma redução voluntária da freqüência respiratória(19). Incluir técnicas de meditação e relaxamento ao final das sessões é de suma importância, pois além de constituírem os aspectos mais importantes das metodologias de ioga, apresentam grande potencial de analgesia e podem auxiliar os pacientes a lidar com aspectos afetivos e emocionais da dor(13,14).

Aplicada com estes critérios, a ioga pode trazer benefícios semelhantes aos da meditação, aliados aos dos exercícios de alongamento, por isso pode vir a ser considerada uma opção válida para melhorar as condições de saúde e os sintomas de pacientes com FM(20).

Fonte: Scielo - Gerson D'Addio da Silva. Lais V. Lage. Ioga e fibromialgia.

 


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